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(Ela) tem Caprichos Matinais LXXXVII

Estranha-se a ausência. Sente-se na pele o vazio, a nudez do corpo despido, que se acha sozinho, desprovido da plenitude que outrora sentiu. Caminha-se em sobressalto, com o coração aos pulos, num trepidar nervoso, indagando-se mentalmente quando chegará a hora de voltar a provar, quando chegará a hora de voltar a sentir. Entranha-se a sensação de querer, de desejar muito, de implorar se for preciso. Abre-se a porta, acto mecânico, e vê-se chegar a memória do que se deseja, o vulto esguio e de alguma forma fugidio que lhe atormenta o corpo da mesma forma que lhe apoquenta a alma. Guloso, demasiado excitado, lança-se em direcção ao querer sem acautelar o corpóreo materializar do espaço em que se move, já não importa. Quer e quer muito. Quer agora. Precisa. Dobra-se e desdobra-se, indica o caminho. Sente, sem nunca tocar o chão, o rasgar do corpo, o locupletar da mente que um dia provou o que era o prazer e desconhece agora como evitar imitá-lo, repeti-lo, forjá-lo.