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True Colours #26

Assalto as memórias que teimam em se intrometer na banalidade dos dias, deixo-as penetrar o pensamento que resiste à força bruta com que se tentam impor. Demoro-me a imaginar, tentando dissecar cada pormenor, separando-os, fazendo uma colheita precisa para análise ulterior. Tento estancá-los, defini-los, descrevê-los, graduá-los. Penso linearmente agora, recuso deixar conspurcar a minha empreitada pelos sentimentos que me assolam. Faço uma lista. Há a sensação inigualável de te sentir crescer torneado pelas minhas mãos, manobrado suavemente para te fazer chegar onde te quero. Há o beijo que te deixo enquanto, sorrindo travessa, te percorro a pele até te encontrar. Há o primeiro degustar do sabor que é só teu. O sabor. O sabor que me alcança o paladar para te reconhecer de imediato. Há o chupar que começa devagar, demorando-se na ponta, enrolando a língua que te massaja suavemente para logo se entusiasmar em rápidos vaivéns. Há o sentir-te tocar bem fundo na garganta, quase me sufocando do prazer de te engolir todo. Há o lamber deslizante em toda a tua extensão que termina onde tudo recomeça. Há o gemer consolado que me grita aos ouvidos e que traduzo como um "não pares". Há o pressentir que assim que me tocares me encontrarás encharcada do tesão que sempre me provocas. Desisto. Concluo, agora que os sinais são por demais evidentes, que é da parte que se faz o todo e tudo conjugado se concretiza em momentos de puro deleite, em momentos vividos intensamente, em saboreares imprescindíveis, em prazeres incomparáveis.